segunda-feira, 19 de outubro de 2015

As nações sem estado da Europa

A propósito das recentes eleições ao parlamento da Catalunha e do referendum realizado na Escócia há poucos meses,  é necessário um pequeno relembrar as diferentes nações da Europa que não contam hoje com estado próprio e os problemas que isto lhes possa gerar. O conceito de nação  é e sempre foi problemático, mas costuma definir-se como um grupo de pessoas que partilha uma mesma língua, grupo étnico e costumes e que se relaciona com um determinado território.

A negação dum estado para estes grupos de pessoas pode mesmo chegar a provocar guerras cruéis, como a relativamente recente Guerra Civil Jugoslava. As ânsias de independência ou de autonomia para a nação sem estado também levam à criação de grupos armados, coma o IRA irlandês ou a ETA  euskara.

Na própria Península Ibérica podem-se distinguir ˗pelo menos˗ cinco nações diferenciadas: a portuguesa, a espanhola, a galega, a basca, e a catalã, das  quais apenas as duas primeiras contam com estado próprio. As circunstâncias históricas das primeiras décadas da Idade Moderna deram origem a que todos os reinos medievais ˗inclusive Portugal por um tempo˗ passassem a fazer parte da Coroa castelhana, que mais tarde seria chamada Reino da Espanha. As políticas históricas do Estado Espanhol em matéria nacional e linguística tentaram emular as do Estado Francês, com uma dura repressão das três nações do norte peninsular. Deste modo, no século XIX e com o pensamento do Romantismo, surgiram reações nacionalistas entre umas elites, que se estenderam durante o século seguinte entre o resto da  população, com maior ou menor êxito[1]. O resultado são as atuais reivindicações de independência na Catalunha ou a luta pela defesa da língua na Galiza.

Ao contrário do que aconteceu na Espanha, na França não chegaram praticamente a surgir movimentos nacionalistas, pois a forte centralização do Estado moderno francês provocou que no dia de hoje línguas como a bretã ou a occitana estejam limitadas à povoação idosa do mundo rural desses territórios. Desde a Revolução Francesa promoveu-se desde Paris um sentimento “afrancesador” que murchou qualquer outro sentimento nacional.

Outro exemplo é o Reino Unido, que historicamente também levou a cabo uma política repressora que provocou uma situação preocupante para as línguas das ilhas que não são o inglês[2]. Porém, o domínio da nação inglesa sobre a galesa, a escocesa e a irlandesa relaxou no século XX com o enorme grau de autonomia política outorgado às distintas nações, que contam com um parlamento com muitas potestades. Contudo, as reivindicações escocesas continuam a ser constantes apesar da perda do SI no referendo de setembro do ano passado. Alem disso, o imperialismo inglês causou na Irlanda a divisão da ilha e da sociedade, com episódios violentos entre os protestantes da parte britânica e os católicos da parte independente.

Ficam sem mencionar muitas outras nações europeias que, por uma ou outra razão, não contam hoje com um estado próprio que garanta os direitos linguísticos e culturais dos seus cidadãos. Apesar estar internacionalmente reconhecido o princípio de autodeterminação dos povos, muitos povos seguem a sofrer medidas repressoras que nalguns casos atentam contra os seus direitos humanos e que causam os problemas já mencionados.








[1] Maior no caso da Catalunha e Euskadi e algo menor no caso da Galiza.
[2] Isto aconteceu mesmo na Irlanda, que é indepêndente desde os anos 20.

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