A propósito das recentes eleições ao
parlamento da Catalunha e do referendum realizado na Escócia há poucos meses, é necessário um pequeno relembrar as diferentes
nações da Europa que não contam hoje com estado próprio e os problemas que isto
lhes possa gerar. O conceito de nação
é e sempre foi problemático, mas
costuma definir-se como um grupo de pessoas que partilha uma mesma língua,
grupo étnico e costumes e que se relaciona com um determinado território.
A negação dum estado para estes
grupos de pessoas pode mesmo chegar a provocar guerras cruéis, como a
relativamente recente Guerra Civil Jugoslava. As ânsias de independência ou de
autonomia para a nação sem estado também levam à criação de grupos armados,
coma o IRA irlandês ou a ETA euskara.
Na própria Península Ibérica
podem-se distinguir ˗pelo menos˗ cinco nações diferenciadas: a portuguesa, a
espanhola, a galega, a basca, e a catalã, das quais apenas as duas primeiras contam com
estado próprio. As circunstâncias históricas das primeiras décadas da Idade
Moderna deram origem a que todos os reinos medievais ˗inclusive Portugal por um
tempo˗ passassem a fazer parte da Coroa castelhana, que mais tarde seria chamada
Reino da Espanha. As políticas históricas do Estado Espanhol em matéria nacional
e linguística tentaram emular as do Estado Francês, com uma dura repressão das
três nações do norte peninsular. Deste modo, no século XIX e com o pensamento
do Romantismo, surgiram reações nacionalistas entre umas elites, que se estenderam
durante o século seguinte entre o resto da população, com maior ou menor êxito[1]. O
resultado são as atuais reivindicações de independência na Catalunha ou a luta
pela defesa da língua na Galiza.
Ao contrário do que aconteceu na Espanha, na França não chegaram
praticamente a surgir movimentos nacionalistas, pois a forte centralização do
Estado moderno francês provocou que no dia de hoje línguas como a bretã ou a occitana
estejam limitadas à povoação idosa do mundo rural desses territórios. Desde a Revolução
Francesa promoveu-se desde Paris um sentimento “afrancesador” que murchou qualquer
outro sentimento nacional.
Outro exemplo é o Reino Unido, que historicamente também levou a cabo
uma política repressora que provocou uma situação preocupante para as línguas
das ilhas que não são o inglês[2]. Porém,
o domínio da nação inglesa sobre a galesa, a escocesa e a irlandesa relaxou no
século XX com o enorme grau de autonomia política outorgado às distintas
nações, que contam com um parlamento com muitas potestades. Contudo, as
reivindicações escocesas continuam a ser constantes apesar da perda do SI no
referendo de setembro do ano passado. Alem disso, o imperialismo inglês causou
na Irlanda a divisão da ilha e da sociedade, com episódios violentos entre os
protestantes da parte britânica e os católicos da parte independente.
Ficam sem mencionar muitas outras nações europeias que, por uma ou outra
razão, não contam hoje com um estado próprio que garanta os direitos
linguísticos e culturais dos seus cidadãos. Apesar estar internacionalmente
reconhecido o princípio de autodeterminação dos povos, muitos povos seguem a sofrer medidas repressoras que nalguns casos
atentam contra os seus direitos humanos e que causam os problemas já
mencionados.
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