terça-feira, 10 de março de 2015

O Entrudo: Portugal e Galiza

Por: 
 Gabriel Ares Cuba 
 Sara Cambeiro Vázquez 

Hoje vamos falar dos entrudos no norte de Portugal. Há pouco que foi a época de entrudos e decidimos fazer uma escolha dos mais interessantes para lembrarmos esta celebração. Para além disto, vamos conectar esta tradição portuguesa com a correspondente galega. Falaremos da zona de Trás-os-Montes (entrudo de Podence, entrudo de Lazarim, e entrudo de Vinhais). 

A zona de Trás-os-Montes é uma região histórica portuguesa fronteiriça com a Galiza e com Castela e Leão. Esta região conta com quatro distritos: o Distrito de Vila Real (catorze municípios), o Distrito de Bragança (doze municípios, entre os quais estão Vinhais e Macedo de Cavaleiros, onde se situa Podence), Distrito de Viseu (vinte e quatro municípios, entre os quais está Lamego, onde se situa Lazarim) e Distrito de Guarda (com catorze municípios). 

A ação dos diabos de Vinhais já não produz hoje os efeitos temidos de outrora, quando as raparigas não se atreviam a sair à rua. O ritual de castigo e correrias pelas ruas da vila é hoje uma manifestação tímida e cada vez mais incerta, com não mais do que uma dezena de mascarados. Os trajes destes mascarados são duma cor vermelha muito intensa e capaz de aterrorizar as pessoas. É um vestido muito simples que pode ir acompanhado com um pau,  o qual usam para ameaçar. 

Mas, em Podence, pequena aldeia situada a poucos quilómetros de Macedo de Cavaleiros, a tradição está de boa saúde e conserva ainda uma boa parte da licenciosidade «selvagem» que sempre a caracterizou. Os dias grandes da festa são o Domingo Gordo e Terça-feira Gorda e os Caretos só param para matar a sede ou para combinarem mais uma arremetida sobre a Praça da Capela, a pequena praça da aldeia onde todos assistem ao ritual. 


Em Lazarim, o Entrudo é uma festa local, quase privada, cuidadosamente preparada nas semanas que a antecedem. O ponto alto é a leitura pública das «deixadas», testamentos que falam sobre os rapazes e as raparigas da aldeia. Jocosos, trocistas e irónicos, são preparados em segredo pelos mais novos, que muitas vezes recorrem à sabedoria e conhecimento dos mais velhos, repetindo a tradição. Os testamentos são lidos pelos mascarados (para que as vítimas citadas não reconheçam os autores das diabruras) e ouvidos pela população, em silêncio.


Mas a festa não fica completa sem o Desfile de Caretos, o Concurso de Máscaras (feitas em madeira pelos artesãos locais) e a Queima dos Compadres - o compadre e a comadre, dois bonifrates cheios de pólvora e que, na terça-feira, põem ponto final à festa e à rivalidade que durante várias semanas opôs rapazes e raparigas. Fundamentais são também as refeições cerimoniais à base de carne de porco, que marcam o inicio do período de abstinência da Quaresma. 

Na Galiza, os Cigarróns, que são personagens mascarados e adornados (como em Verín), as Pantallas que chateiam  os viandantes com duas bexigas cheias de ar (muito comum no Entrudo de Xinzo da Limia), os distintos Peliqueiros (como em Laza), personagens que se distinguem pela sua animalização: não falam, levam chocalhos como os animais, azorragam às pessoas e levantam a saia às mulheres. Animais como uma vaca, um burro ou um galo, sejam reais ou simulados, simbolizam o Entrudo em si e intervêm na festa, quer para serem burlados e escarmentados, quer para atuar activamente fazendo falcatruas. 


Para finalizarmos, podemos dizer que os entrudo do norte de Portugal têm rasgos em comum com os da Galiza como, por exemplo, o terror, o acosso e o uso de imagens demoníacas.

Bibliografia:

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