quarta-feira, 18 de março de 2015

Paiva Couceiro: desde o exílio na Galiza até à cidade do Porto

Numa entrevista a Xosé Ramón Pena, realizada em 2008 pelo diário La Opinión Coruña, o filólogo galego assegurava que, durante a Guerra Civil espanhola, Portugal estudou a possibilidade de anexar a Galiza. Segundo o escritor galego, Rolão Preto, peça chave para a criação do movimento Integralismo Lusitano, tinha aconselhado Salazar a aproveitar o caos administrativo existente durante a Guerra Civil espanhola. Segundo parece, houve mesmo um plano de ação que estudou a possibilidade de levar a cabo essa anexação.
O Integralismo Lusitano era um agrupamento sócio-político tradicionalista do Portugal de começos do século vinte, partidário da restauração da monarquia, que esteve ativo e influente desde 1914 até 1932, em oposição à República Portuguesa de 1910 e ao posterior Estado Novo de Salazar. Sem chegar a considerar ou julgar ideologias políticas, o que nos chamou a atenção fui o fato da Galiza ter servido de refúgio, exílio e base de operações a importantes figuras do Integralismo Lusitano nestas primeiras décadas do século vinte; figuras como o próprio Rolão Preto ou mesmo o seu amigo e mentor político, Henrique Paiva Couceiro.
Dentro do Integralismo, o qual se inscrevia numa ideologia nacional-sindicalista, foi o militar e político Paiva Couceiro o  principal responsável por planear a restauração da monarquia portuguesa  e de chegar inclusive a conseguir a sua instauração à base de teimosia, ainda que só durante 25 dias. Refugiado na vila pontevedresa de Tui, Couceiro reorganizou um pequeno grupo de militares partidários da monarquia, realizando assim diversas incursões ao território português, entre 1911 e 1919.
Paiva Couceiro, imagem da Wikipédia 
Couceiro tinha-se notabilizado nas campanhas coloniais de ocupação em Angola e Moçambique, chegando a ser o único oficial português a ser agraciado com três graus da Ordem Militar da Torre e Espada, pelo valor, lealdade e mérito, tendo sido também proclamado benemérito da pátria. Depois do exílio do rei D. Manuel ll, logo após a implantação da República, Couceiro não reconhece as eleições de 1911. Numa carta enviada a Rolão Preto, em 1910, Couceiro assegura que no país não existem “nem crenças, nem fé”; a confusão na política portuguesa permite “frivolidades correndo ao gozo” e “plutocratas tratando da vida”, enquanto a consciência social portuguesa se desvanece. Notoriamente pouco susceptível a pusilanimidade, Couceiro não desistiu dos seus ideais de progresso e grandeza para o povo português. Reúne as suas tropas em 1911 e, logo após tomar Chaves a 4 de outubro, é derrotado pelas forças republicanas, muito superiores em número e melhor equipadas. Esta derrota obriga-o ao exílio na Galiza.
Esta contra-revolução monárquica, que contava com a simpatia dos conservadores da região Norte de Portugal, conseguiu subverter as instituições do território que ia do Minho à linha do Vouga, depois de realizar a sua última incursão em 1919. Em nome do rei D. Manuel II de Portugal, exilado na Grã-Bretanha, ela restaura a Carta Constitucional de 1826, proclamando, assim, a restauração da monarquia na cidade do Porto, a 19 de janeiro. Couceiro foi presidente da junta governativa desta chamada Monarquia do Norte, sendo ativamente apoiado pelos líderes integralistas. Este efémero regime, que durou até 13 de fevereiro, revogou toda a legislação republicana e restaurou a bandeira e o hino monárquicos. Não obstante, logo teria de enfrentar a carência de apoios fundamentais por parte da política, do exército e da sociedade portuguesa, tendo de abandonar as suas pretensões a favor da República.

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